quarta-feira, dezembro 27, 2006

A Morte de Um Apicultor, L. Gustafsson

- … cada sítio pertence a uma época diferente.
- As doenças dão-lhes uma identidade. Isto é ainda mais verdadeiro para alguns dos mais velhos e humildes. A doença dá origem a um interesse pelas suas pessoas que nunca lhes for a dispensado quando tinham saúde.
- Talvez sejam sempre as nossas ideias que amamos.
- Não precisamos conviver com a realidade, podemos tranquilamente voltar a viver com a nossa ideia.
- Qual a distância máxima a que podemos amar uma pessoa? Resposta: menos de um milímetro. E sem nome.
- Parece não haver nada de que o subconsciente tenha tanto medo como a sensação de ser ninguém. E, servidor prestável, comecei a fabricar-me uma biografia!
- As pessoas que virão a significar alguma coisa para nós, encontramo-las não uma, mas pelo menos vinte vezes, antes de levarmos a sério o aviso.
- Eu tinha uma necessidade extraordinária de ser visto, naquele tempo. Se conseguimos seduzir alguém, então também conseguimos ser vistos.
- Sempre suspeitei que todas as soluções se encontravam algures entre a minha vida e outra.
- Desde que comecei a ter dores a sério, acontece uma coisa muito curiosa: são outras idades, outras recordações, que começam a tornar-se importantes para mim.
- A dor dramatizava o facto de eu ter um corpo, não, de eu ser um corpo.
- Nunca tinha compreendido que a possibilidade de nos concebermos a nós próprios como uma coisa una e ordenada, como um eu humano, depende da existência de uma probabilidade de futuro. O próprio sentido do eu assenta no facto de ele poder existir no dia seguinte também.
- Todas as coisas acabam por ter o sentido que nós lhe damos.
- O paraíso oferece problemas interessantes. O que é um estado de felicidade que se prolonga indefinidamente?
- … a palavra “eu” é a mais vazia de todas. É o ponto oco da língua.
- Recomeçamos. Não nos rendemos.
- O ser humano, esse estranho animal, balançando entre animal e esperança.
- O medo de enlouquecer é no fim de contas o medo de nos transformarmos noutra pessoas.
- No fundo de cada pessoa há um enigma impenetrável. O negro da pupila não é mais do que essa noite sem estrelas. O negro no fundo dos olhos não é mais do que as trevas do próprio universo.
- Só como enigma o ser humano assume toda a sua grandeza e transparência.
- Ninguém está em sua casa no universo.
- Eu, eu, eu, eu… ao fim de apenas quatro repetições uma palavra sem sentido.

- Era de um negro diferente, o negro esperto e enxuto dos répteis. Comparado com o olho de um réptil, o de um mamífero parece viscoso, meio embriagado pelas forças quentes da vida. O réptil olha a direito para o escuro, com um olhar seco. Sabe deus o que ele vê. Algo – diferente?

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