terça-feira, novembro 28, 2006

Marie Antoinette

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Este foi o meu primeiro Sophia Copolla e deu para perceber o que já tinha lido sobre ela como sendo uma criadora de ambientes. E o filme vive exactamente disso, do ambiente criado em torno de Marie Antoinette, ou melhor, que acompanha Marie Antoinette.
Não acho que seja um filma extraordinário, mas considere-o um bom exercício de estilo. Pega-se numa personagem histórica com uma imagem pública denegrida e procura-se dar uma versão diferente e quase oposta da mesma. Segundo alguns historiadores, esta imagem histórica que conhecemos não será tão negra como se pinta, mas esta versão de Sophia também não convence como real. Parece demasiado delico-doce. Talvez isso se deva ao exagero de doces e cor-de-rosa que povoam o écrã.

Doces em quase todos os fotogramas. Nos que não há, há cor-de-rosa, é sempre muito, demasiado rosa que só é quebrado pelo vislumbre de uns all stars azuis. Pois é! Deve ser criatividade artistica.

For a isso, o guarda-roupa é lindissímo, os cenários também, ou não fossem eles reais, e o desempenho de Kirsten Dunst igualmente. Mas para mim o melhor, e mais digno de nota, é Jason Schwartzman na sua composição de um Luís envergonhado, desajeitado e com uma enorme paixão por fechaduras.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Dicionário

Vergontea - do Lat. virgulta, moita coberta de rebentos, s. f., Bot., ramo tenro de árvore; rebento; haste; fig., prole; filho; descendente.

Adstringir - do Lat. Adstringere, v. tr., unir, apertar, fazer encolher (os tecidos orgânicos); v. refl., cingir-se.

Meditabundo - do Lat. Meditabundu, adj., que medita; melancólico; reflexivo; pensativo; meditativo.

Sincipício - do Lat. sinciput < semi, metade + caput, cabeça, s. m., o alto da cabeça; cocuruto.

terça-feira, novembro 21, 2006

Minto até ao Dizer que Minto, J. L. Peixoto

- Nenhum dos seus gostos podia ser partilhado com uma multidão de desconhecidos.
- … não sei explicar todas as rodas dentadas daquilo que aconteceu.
- Estar errado é mentir sem saber. Errei quando disse tudo e quando não disse nada. Errei quando disse todos, ou ninguém, ou sempre, ou nunca. Seria tão bom se tivesse uma explicação simples para o mundo.
- Cheguei à rua quando a tarde chegava ao seu próprio descanso.
- … aceitar que os homens com mais de dois metros vêem o mundo de uma maneira que nunca poderei compreender completamente.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Os Filhos do Homem

Num futuro demasiado próximo, a humanidade será atingida pelo flagelo da infertilidade em proporções que colocam em risco a continuidade da espécie humana. A tensão e o desespero causados pela falta de perspectivas de um futuro culminam num estado de sítio globalizado.
É neste ambiente caótico que a personagem de Clive Owen é desafiada a acompanhar uma jovem grávida a um porto de abrigo onde poderá criar essa criança, que tem sobre si o peso da esperança de continuidade de uma humanidade em vias de extinção e que por isso mesmo é tratada como que um bem a ser detido e utilizado como moeda de troca sem qualquer atenção às suas necessidades enquanto ser individual e com direito a uma harmonia.
É de salientar a plausibilidade da história, a cenografia e a construção de ambientes extremamente realista e a realização.

Timbuktu, P. Auster

- … não há criatura que consiga ser alguma coisa nesta vida se não houver alguém que acredite nela.
- A diferença não residia no facto de um ser pessimista e o outro optimista, mas sim no facto de o pessimismo de um ter conduzido a um etos de medo, ao passo que o pessimismo do outro produzira um ruidoso e refractário desdém por Tudo Aquilo que Existia.
- Deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrámos. Isso é o melhor que um homem jamais poderá fazer.
- Eu próprio as pus muitas vezes e a única resposta a que cheguei em toda a minha vida é aquela que não responde a nada: porque eu quis que fosse assim. Porque não tive alternativa. Porque não há respostas a perguntas destas.
- E o poeta? O poeta, suponho, ficou algures no meio, no intervalo entre o melhor e o pior de mim.
- … uma jogada desesperada no vil jogo o Ego, que era precisamente o jogo em que toda a gente perdia, em que ninguém jamais poderia ganhar.
- Os pombos podiam ser mais estúpidos que os cães, mas era por isso mesmo que Deus lhes tinha dado asas em vez de cérebros.
- … era a prova provada de que o amor não era uma substância quantificável. Havia sempre mais amor algures e, mesmo depois de se ter perdido um amor, não era de modo nenhum impossível encontrar um outro.
- … a primeira vez que compreendia que a memória era um lugar, um lugar real que se podia visitar, e que passar um bocado no meio dos mortos não era necessariamente mau, que, na realidade, isso podia ser uma fonte de grande conforto e felicidade.
- É esse o problema com a gente miúda. Podem ter as melhores intenções, mas não têm poder nenhum.

terça-feira, novembro 14, 2006

De portus ficcionis

Visitei agora o Porto.Ficção porque julguei que só agora saberia identificar alguns dos seus locais e assim compreeender as suas intesidades e profundidades. No entanto, a maioria dos contos desta colectânea elaborada son a égido da Porto 2001 tanto poderia, a meu ver, ter como pano de fundo o Porto como qualquer outra cidade. Claro que são mencionados locais, mas estes nem sempre conferem qualquer intensidade às histórias de que servem de cenário. São apenas isso: cenários, e não personagens de súbtil intervenção, como inicialmente esperava.
Talvez o erro seja meu. Não se deve esperar nada dos livros, apenqas receber o que eles estiverem dispostos a revelar.
Curioso é o facto de todos os textos dos autores brasileiros terem como temática o resgate de um passado familiar: uma mãe, um avô, uma infância, uma memória de palavras. É a maldição deste nosso país irmão que encontra em Portugal um sempre presente fantasma do passado. Nunca é a visão de um começo, de uma tábua rasa de descoberta, há sempre um grão de passado. Essa fatalidade nacional que nós mascaramos de saudade e que inevitavelmente passamos aoutros paises da lusofonia. Portugal é sempre um retorno e nunca um início.

sábado, novembro 04, 2006

Porto. Ficção, VVAA

- Mas as freiras não esquecem nunca. São os elefantes de Deus.
- O homem nasceu só e vai morrer só. Por mais que tentem encobrir a verdade de Deus.
- A saudade é essa forma de fazer do horror o orgulho da nação.
- Os nossos contemporâneos da infância são a prova viva de que um dia também fomos jovens.
- Sem eles, a nós não restava mais do que a velhice.
Bernardo Carvalho
- Qualquer poeta sabe que se deve começar pelo espaço…
- … o espírito do corpo como o espírito do lugar, começa exactamente pelo seu exterior.
- O grande problema do poeta é trabalhar demasiado a metáfora, esquecer demasiado a intriga.
Lídia Jorge
- Minha infância foi tão extensa que nunca notei esse tamanhinho do lar. Ainda hoje, esse tempo é o lugar mais extenso do universo.
- Uma reapredizagem tão profunda implica uma radical perca de juízo. Isto é, implica a infância.
Mia Couto

- … atingiu os sessenta anos de idade. Era altura de pensar na vida. Ou melhor, na morte e nas suas inconveniências.
Pepetela

- … os dias são o arco de luz que só a memória perfaz…
- Uma cidade não se dá, come-se devagar como um nome estranho que resiste na boca, uma cidade não tem horas certas, de repente estamos na hora absoluta, às vezes é só um minuto essa hora.
- … um nome é a paz de qualquer chegada.
Rui Nunes

- Como uma árvore, às vezes penso, o homem pode subir alto, mas as raízes não sobem. Estão na terra, para sempre, junto da infância e dos mortos.
Vergilio Ferreira