quarta-feira, setembro 15, 2004

Encerro em mim mais um capítulo...


Os estores a três quartos emprestam uma luminosidade ténue às paredes outrora brancas. As cortinas encardidas ameaçam desfazer-se ao mínimo toque, que nem sequer ouso. O pó de anos acumulado impede o reconhecimento da antiga familiaridade dos objectos. Olho e não reconheço neste o meu quarto de infância, perdido, algures, numa outra existência.
Permaneço sob a ombreira de um portal em que não há viagem de regresso à magia. Duvido mesmo que esta tenha existido em tempo algum. Tudo é tão distante. Redobro o esforço. Concentro-me. Mas perdi a ligação.
Percebo que não era ali que vivi anos que todos querem dourar. Está tudo tão vazio de vida, que nem a imaginação consegue florir.
Tento lembrar o momento preciso em que a alegria se esvaiu, mas não consigo fixa-lo na memória. Talvez nem tenha dado por ele – impossível de reconhecer, impossível de alcançar.
O relógio na parede há muito que parou de contar seja o que for e olhamo-nos imóveis: dois desconhecidos outrora íntimos e cúmplices.
Um último olhar em redor e fecho a porta. Encerro em mim mais um capítulo, rasgado e atirado a um canto onde ficará até ao seu fim.

2 comentários:

li@ disse...

está lindo amiga! Acho que podes e deves escrever mais coisas tuas em vez de coisas dos outros!
beijos ;)

Adelaide Bernardo disse...

Bigada miga.